terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Uma questão de escolha

Sinopse (S01E02): Após o eclipse do episódio anterior, alguns indivíduos começam a manifestar poderes. Peter, após jogar-se do terraço de um prédio, recupera-se de sua queda. Além disso, confronta seu irmão Nathan sobre o que aconteceu com os dois. Hiro viaja no tempo e espaço, chegando à New York, mais de um mês no futuro. Ali, encontra Isaac morto em seu apartamento e testemunha uma explosão nuclear que destrói a cidade. Um policial chamado Matt Parkman usa seu poder de telepatia por instinto, achando Molly Walker, uma pequena garota que teve seus pais brutalmente assassinada por um serial killer chamado Sylar. Claire evita seu ato heróico e é envolvida pelo mistério da perda de sua fita gravada que revela seus poderes. O geneticista Mohinder continua a investigar a morte de seu pai e Niki lida com as conseqüências das mortes dos capangas de Linderman em sua casa tendo uma assistência inesperada.

No episódio, os personagens fazem escolhas. É a marca que acompanha os acontecimentos ali presentes. Claire faz a escolha de conhecer seus pais biológicos. Peter entra numa busca incessante para saber mais sobre si e seu irmão. Matt escolhe ouvir a voz de uma garota com medo. Nathan opta por esconder seu poder. Mohinder escolhe a busca por respostas sobre a morte de seu pai. Hiro tem diante de si a escolha de sua jornada ao contemplar o futuro conhecido. E, assim como cada um deles, nós também fazemos as nossas escolhas. Escolhas que orientam nossa vida. Escolhas que formam um caminho. Porém, assim como alguns deles também, podemos desejar um retorno ao passado, evitando o presente que parece nos forçar numa determinada direção. Mas seria tal atitude possível?

Certas coisas acontecem em nossa vida que gostaríamos de apagar de algum modo. É a morte de uma pessoa querida. Um acidente inesperado. Palavras que foram ditas que machucaram. Atitudes que minaram relacionamentos. Práticas que dividiram o lar. Escolhas que deram um fim ao casamento. Omissões que afastaram pais e filhos. Posturas que limitaram as possibilidades no trabalho. Pense em suas escolhas.

Existem momentos que gostaríamos de mudar. Alguns deles devido às nossas escolhas; outros, porém, que não dependiam de nós e que foram circunstanciais. De um modo ou de outro, mesmo que tentemos voltar atrás, não conseguiremos. As marcas ficaram. As boas com as ruins. As alegres com as tristes. As incertas com as certas. E, diante de tudo isso, resta-nos a escolha de decidir o que faremos com tudo aquilo que nos marcou e fez de nós quem realmente somos hoje.

Logo, o desafio que surge está no aprender com esses eventos. Refletir. Avaliar. Tirar lições. Lidar com as feridas e permitir que cicatrizem. E existe algo interessante nesses momentos que vivemos. Muitos deles nos levam a questionar se foi realmente fruto de nossa escolha ou de um destino por trás deles. Particularmente as que envolvem circunstâncias sob as quais não temos controle.

Antigas perguntas podem surgir: será que, de fato, minhas escolhas fazem diferença? Ou será que o que existe é apenas o meu inevitável destino? E, quando essas perguntas emergem, é importante ter consciência de duas tendências que existe dentro de nós e que direcionam nossa forma de lidar com aquilo que acontece fora de nós:

Opção 1: “Eu escolho! Não existe destino.”
Por trás desse pensamento está o fato de que as escolhas importam e o futuro está indeterminado. É um futuro aberto ainda a ser definido. É marcado pela visão de que somos responsáveis por cada uma de nossas escolhas, tendo a escolha o fator decisivo de tudo o que há. Colocamo-nos como deuses. Tornamo-nos essenciais na vida da humanidade. Ou, se a nossa visão não vai tão longe, somos, no mínimo, os únicos responsáveis pela nossa vida. Tudo depende de nós. No entanto, pensar assim acaba por levar cada um de nós a uma sensação de sobrecarga, com um desgaste infindável numa luta sem fim, já que, se pararmos por um breve momento, a culpa pelo que acontecerá recairá sobre nossos ombros. Logo, iniciamos uma busca pessoal pelo fazer sem nunca encontrar uma satisfação plena. E o que restará será um grande fardo, frustração crescente, esforço incontrolável, desorientação contínua, falta de propósito e vazio existencial.

Opção 2: “Eu não tenho a opção de escolher. Nada mudará, pois meu destino já foi definido.”
Esta opção parte para o outro extremo. Descarta toda responsabilidade humana e define um futuro impossível de ser evitado. A escolha não faz sentido. O que fazemos é mera perda de tempo. Na verdade, dizemos que a escolha é apenas uma ilusão. Não há como mudar nada. Como conseqüência disso, podemos viver de modo libertino. O que importa é termos prazer, sermos felizes, sem responsabilidades, sem compromissos, apenas reagindo ao que acontece ao nosso redor. Deus ou alguma força superior está no controle de tudo e não há como evitarmos o inevitável.

E, então, quem está certo? Qual dos dois é o correto? Já optou por uma delas? Antes que faça isso, eu o convido a pensar numa terceira possibilidade que nos desafia a ir além das duas. É uma opção difícil de ser aceita dentro de nossa mentalidade ocidental, pós-moderna e pragmatista. Mas ainda assim, eu o desafio a considerá-la...

Opção 3: “Minhas escolhas revelam meu destino dentro um propósito maior.”
As escolhas importam. Mas o destino é inevitável. Nós temos uma responsabilidade. Mas Deus está no controle de tudo. As duas certezas são reais. Cada escolha faz diferença. Mas nenhuma escolha mudará nosso destino. Temos decisões sob nosso controle, mas circunstâncias que revelam as limitações de nossa escolha. Logo, devemos dar mais atenção à nossa jornada sabendo que por trás dela há um destino. Nosso papel é entender nossas escolhas, fazendo-as com reverência, desvendando gradativamente nossa vocação com temor e sabedoria. Da nossa perspectiva, as coisas estão mudando em cada escolha feita. Da perspectiva de Deus, tudo está acontecendo como foi planejado desde o princípio. E nosso papel não é alterar o destino, mas compreendê-lo e buscá-lo, ouvindo Deus no processo.

Eu sei. Sua reação talvez seja: “Mas não consigo entender isso! Como é possível os dois serem verdade? Escolha com destino? Impossível!”. De fato, talvez seja impossível para nós compreendermos totalmente como destino e escolha se encaixam. Mas será que precisamos compreender totalmente algo para que se torne verdadeiro? Quem disse que todo conhecimento que há no universo caberia numa mente finita e limitada como a nossa? O grande problema é que pensamos dentro de uma realidade: tempo. E avaliamos em termos do tempo. Mas será que essa realidade é plena, completa e totalmente confiável? E se olhássemos de uma perspectiva atemporal, será que tudo não faria sentido? Essa é a perspectiva de Deus.

Talvez o assunto escolha versus destino possa parecer indiferente quanto ao impacto em nossa vida. Mera conversa filosófica. Porém, a questão tem mais a ver conosco do que você imagina. Por trás dela está o antigo debate sobre responsabilidade humana e soberania de Deus. E essas duas realidades não são excludentes, mas complementares. Fato é que o modo como encararmos essas duas questões, nossa postura será amplamente influenciada. Orientará nossas motivações. Guiará nossa forma de agir. Direcionará nossas avaliações. Impactará em nossas decisões.

Assim, quero convidá-lo para uma caminhada a partir da certeza que há na literatura paulina e que pode trazer uma paz incomparável para cada um de nós:

“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
Quem compreendeu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro?
Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?
Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas.
A ele seja a glória para sempre! Amém!”
Romanos 11.33-36


O desafio passa por reconhecer a soberania de Deus. Na verdade, começa nele. Porém, devemos ser responsáveis em nossas escolhas. Cada escolha deve ser feita considerando a sua voz celeste. Como conseqüência disso, alcançaremos paz. Uma paz plena que habitará dentro de nós. E, assim, cada escolha será feita da maneira correta de modo a compreendermos nossa vocação e destino. Em cada mudança que possa ameaçar nossa segurança, não mais a veremos como um caminho para crises e fracassos, mas sim como parte de uma estrada para novas oportunidades e conquistas. Em cada acontecimento e circunstância, não mais seremos levados por nossas incertezas e medos, mas seremos conduzidos pela busca de nossa identidade em temor e submissão.

O convite é olhar para frente. O desafio é fazer escolhas contemplando nosso destino final, o qual converge para Deus. O ensino para nós é o de caminhar como Peter, o qual busca sua vocação, realizando escolhas em reverência a um destino maior que envolve pessoas, as quais carecem de amor, aceitação e salvação. Aprendamos com ele. Valorizemos nossas escolhas, mas reverenciemos o Senhor. Não olhemos para trás, mas caminhemos focalizados nas possibilidades do futuro a partir do que já vivemos, ouvindo Deus, honrando-o em nossa caminhada de vida em amor às pessoas que nos cercam. Trilhemos este novo caminho. Fará diferença para cada um de nós. Fará diferença para o mundo. Que tal fazermos essa escolha?

NARRAÇÃO DO EPISÓDIO (S01E02)
Introdução: “Todos se acham agentes de seu destino. Capazes de determinarem seu próprio destino. Mas temos escolha realmente quando nascemos? Ou quando morremos? Existe uma força maior que nos coloca numa direção? É a evolução que guia as nossas vidas? A ciência nos aponta o caminho? Ou é Deus que intervém e nos mantém a salvo?”

Conclusão: “Apesar de todo o seu poder, o homem não pode escolher o seu caminho. Ele só pode decidir como vai reagir quando ouvir o chamado do destino, esperando que tenha a coragem de atendê-lo.”

Um comentário:

César disse...

Daniel, que Deus continue a abençoa-lo nos caminhos Dele. Aprendi muito com esta reflexão. Realmente tentar entender a mente de Cristo com nossa limitação é algo fora da realidade. Que vc continue sendo benção na vida de muitos. Abraços!